Raquel Mesquita
Festa das Latas
“Coimbra é nossa e há-de ser, Coimbra é nossa até morrer”
Já a tarde ia alta quando o cortejo começou “finalmente” a andar. O negro dos trajes dos “doutores” contrastava com as cores das vestes dos caloiros. As críticas ao Ensino Superior dominaram.Era fácil distingui-los, quer pelas palavras de ordem, quer pelas músicas que cantavam em uníssono. Com as inevitáveis latas a “decorar” a indumentária, (em número bastante superior no passado) os estreantes no Ensino Superior seguiram pelas ruas fora, com muito barulho à mistura. As tampas de panelas, os bidões metálicos a servir de bombos, os apitos, as gaitas, os gritos de “guerra” e os cânticos das diferentes faculdades deram vida às principais artérias de Coimbra. Nem o atraso conseguiu afastar os curiosos. Apesar do cansaço a vontade de ver o filho, o neto, o sobrinho ou até mesmo o conhecido acabou por falar mais alto. Maria Rodrigues enquanto falava com orgulho da filha, caloira em Medicina, recordava os seus tempos de estudante. “No meu tempo não era nada disto, estava tudo muito mais organizado e não havia tanto atraso”. A opinião das pessoas que estavam a assistir ao cortejo era unânime: “muita confusão, cursos misturados ou lentidão”, foram alguns dos reparos. Apesar de tudo, o cortejo lá foi decorrendo. As críticas às mais recentes medidas aplicadas no Ensino Superior, marcavam presença em muitos dos carros ou cartazes dos caloiros. “Tribolonha é uma selva”, “Bolonha é uma tanga!” ou ainda “Embolonharam o código, e agora de colete só no Médio Oriente”, foram algumas das frases utilizadas. Mas as críticas ao novo código da praxe também se fizeram ouvir. “O colete devia voltar”, referiu a “doutora” Paula Silva. A estudante de Farmácia acompanhava um grupo bastante animado de caloiras. Elas rebolavam no chão, cantavam, dançavam, enquanto que entre os curiosos alguém dizia “ e anda uma mãe a criar um filho para isto”. O grupo de Turismo da Faculdade de Letras também surpreendeu o público. Entre palavras de ordem contra o Ensino Superior a presença de um caixão, atraía os olhares. “O grupo F.Alves cedeu o caixão para relembrar a sátira dos cortejos de antigamente”, explicou o “doutor” André.A gasosa, o traçadinho, a cerveja e o tinto contribuíram para animar a festa. E porque a fome costuma apertar sempre nestas alturas, alguns dos carros estavam equipados com grelhador, para se ir comendo ao longo do percurso. O cheiro a carne ou a chouriço assado aguçavam o apetite. “E há sempre espaço para mais uma febra”, disse um “doutor” de Medicina, enquanto uma jovem passava. Durante o cortejo não há espaço para vergonha ou timidez. Joana vive a Latada pela primeira vez. A estudante de Direito estava vestida a rigor, onde o vermelho era a cor marcante. “Ser caloiro é bom, é muito bom e para o ano quero ser caloira outra vez”, repetiu mais que uma vez, enquanto saltava e pulava. Chegando à Praça 8 de Maio, o ambiente não era diferente. Milhares de pessoas enchiam a rua. Pouco passava das 18H00 quando a coreografia feita pelos estudantes de desporto, despertou muitos risos e aplausos. “Ninguém pára o Desporto. Ninguém para a Latada, porque Coimbra é nossa e há-de ser”.
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